Maranhão tem mais de 536 mil pessoas com deficiência
Inclusão é chave para autoestima e dignidade
Era fim de tarde no interior do Maranhão quando a infância de Giovanni Lima mudou para sempre. Ele tinha apenas 8 anos quando começou a apresentar sintomas que, com o tempo, resultaram em paralisia em uma das pernas. O diagnóstico foi de paraparesia espástica, uma condição neurológica caracterizada por rigidez e fraqueza progressiva nos membros inferiores. Além disso, Giovanni também enfrenta dificuldade de se comunicar com clareza, uma espécie de disartria. As duas condições, juntas, fazem dele uma pessoa com deficiência múltipla.
Desde cedo, Giovanni enfrentou desafios que exigiram resiliência. A infância marcada por limitações físicas também foi permeada por preconceito e exclusão. Mas o que poderia ter sido apenas um obstáculo tornou-se força para seguir. Hoje, aos 44 anos, ele é assistente administrativo no Centro Universitário Estácio São Luís e vê na inclusão profissional a chave para o resgate da sua qualidade de vida.
“Estar no mercado de trabalho não é só ter um salário. É ter dignidade, respeito e sentir que eu faço parte da sociedade. Isso mexeu muito com a minha confiança e com o meu bem-estar. Eu consigo mostrar que posso contribuir tanto quanto qualquer outra pessoa”, afirma.
Para a psicóloga e professora da Estácio, Renata Pacheco, histórias como a de Giovanni demonstram como a inclusão social impacta diretamente a saúde mental. Segundo ela, o preconceito e os estigmas ainda são barreiras frequentes.
“Quando uma pessoa com deficiência é excluída, isso afeta sua autoestima, gera tristeza e pode levar ao isolamento. Já a inclusão promove o sentimento de pertencimento, melhora o bem-estar psicológico e ajuda a desenvolver habilidades sociais e emocionais”, explica.
Incluir é transformar
Para Renata Pacheco, compreender o que significa viver com deficiência é o primeiro passo para uma sociedade mais justa. A deficiência intelectual está ligada a limitações nas habilidades mentais gerais, enquanto a deficiência múltipla ocorre quando uma pessoa apresenta mais de uma condição que impacta seu desenvolvimento. Mas, mais do que os conceitos, o que realmente importa é o olhar que temos sobre essas pessoas. “Muitas vezes, esse olhar é de exclusão, quando deveria ser de acolhimento e oportunidade”, destaca a especialista.
Renata ressalta ainda que a deficiência intelectual e a deficiência múltipla trazem desafios adicionais, mas que podem ser amenizados com acolhimento e oportunidades. “Na escola, incluir uma criança com deficiência em uma simples brincadeira já contribui para o desenvolvimento motor e social. É um gesto pequeno que faz uma diferença enorme no futuro dela”, acrescenta.
ESTATÍSTICAS
De acordo com o IBGE, o Maranhão possui 536.103 pessoas com algum tipo de deficiência, o equivalente a 8,1% da população com dois anos ou mais. Esse dado está acima da média nacional, que é de 7,3%.
O levantamento mostra ainda que 34,5% das pessoas com deficiência são analfabetas, quase três vezes mais do que a população sem deficiência (11,39%). Dentre as pessoas com deficiência, 41% têm 60 anos ou mais e a deficiência visual é a mais comum, atingindo 328.803 pessoas. Pela primeira vez, o IBGE incluiu dados sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA): no Maranhão, a maior incidência está entre crianças de 5 a 9 anos (2,2%), sendo a maioria meninos (60,3%).
DESDE A INFÂNCIA
Segundo Renata, a inclusão social é decisiva para a autoestima e o bem-estar psicológico da pessoa com deficiência. “Quando uma criança é chamada para brincar no intervalo da escola, por exemplo, ela não apenas se diverte: sente-se parte de um grupo, fortalece sua autonomia e desenvolve habilidades motoras e sociais. O contrário também é verdadeiro: a exclusão, somada aos estigmas sociais, aprofunda sentimentos de tristeza, inferioridade e isolamento, impactando tanto a pessoa com deficiência quanto seus familiares”, explica.
Ao refletir sobre sua trajetória, Giovanni resume o que especialistas e dados comprovam: a inclusão muda vidas.
“Se eu não tivesse tido essa oportunidade, talvez eu fosse mais um número nas estatísticas. Mas quando a sociedade abre espaço, a gente mostra o quanto pode contribuir. Isso faz toda diferença na autoestima e na qualidade de vida”, conclui.